sábado, 16 de agosto de 2014

A prevenção da infeção por Meningococo B: uma realidade atual

A Neisseria meningitidis ou meningococo B, é uma bactéria que pode provocar infeções graves (sépsis e/ou meningite) em todas as idades, mas em especial nas crianças e nos adolescentes.
Logo no primeiro dia de doença os doentes ficam gravemente doentes com febre, prostração, dores nos membros e manchas róseas que evoluem para petéquias e/ou púrpura.
As elevadas mortalidade e morbilidade e as potenciais sequelas definitivas, justificam a vacinação generalizada das crianças e adolescentes.


O que são meningococos?

São bactérias, denominadas cientificamente como Neisseria menigitidis, que provocam infeções muito graves (sépsis e/ou meningite), mais frequentemente em crianças e adolescentes (Figura 1, 2, 3 e 4).
Os contágios íntimos (os grupos, beijos, cigarros partilhados, etc.…) justificarão o segundo pico da incidência desta doença nos adolescentes (Figura 2).
As Neisseria meningitidis mais comuns são os do grupo A (mais em Africa) e as dos grupos B e C (Europa, Américas, …).
Há mais de 10 anos que as crianças são vacinadas, por rotina, contra o meningococo C. Só em Junho de 2014 se iniciou a comercialização da vacina contra o meningococo B.
Pela elevada mortalidade, a sépsis por Neisseria meningitidis (infeção generalizada do corpo) ainda é mais grave do que a meningite. É frequente a ocorrência destas duas formas da infeção em simultâneo.

Figura 1: Casuística de 218 casos de infeção por Neisseria meningitidis (todos com culturas positivas), tratadas no Hospital Pediátrico de Coimbra (de 1980 a 2012): 42% ocorreram no 1º ano de vida; 5% morreram.

Figura 2: Prevalência da meningococemia e a imunidade adquirida (por contactos inadvertidos) e por idades; nos primeiros meses de vida transmitidos pela mãe; adaptado de: Pollard AJ et al. Neisseria meningitidis. In: Long SS et al. Principles and Practice and Pediatric Infectious Diseases 3th ed, 2008: pg 735.

Figura 3: Recém-nascido de 13 dias com sépsis por Neisseria menigitidis do grupo B; inicialmente apenas grande irritabilidade e lesão única de púrpura num braço; foi imediatamente internado e iniciado tratamento específico; só várias horas depois teve febre (máxima axilar 38,3ºC). Veio a ter sequelas nas ancas (coxoartrose).

Figura 4: Adolescente de 12 anos com púrpura; primeira queixa: dor intensa no 1º dedo do pé direito; na evolução exigiu amputação do 1º dedo do pé direito. Foto à 8ª hora de febre.



Como é que se manifestam as infeções por meningococos?

Em regra as crianças surgem com febre (alta ou não, difícil de controlar ou não), prostração (muito mais “caído” em comparação com episódios já passados de febre), sonolência excessiva, dores no corpo (que se pode manifestar nas crianças mais jovens apenas com choro à manipulação) e manchas no corpo.

Prostração é, estando acordado, comportar-se no corpo e na alma, como se estivesse a dormir.


Figura 5: A sequência das manifestações clínicas é muito rápida, logo nas primeiras 24 horas da doença


Logo no primeiro dia de doença é comum surgirem “pintinhas” espalhadas pelo corpo, sobretudo nos membros inferiores. Inicialmente podem ser manchas rosadas (Figura 6) surgindo depois, ou em simultâneo, uma pinta negra no meio dessas lesões róseas (são as petéquias), que não desaparecem à pressão, por exemplo com um vidro (Figuras 7, 8 e 9).
Quando as manchas escuras são superiores a 5 a 10 mm, denominam-se “púrpura” (Figuras 3 e 4).

Figura 6: Exantema róseo da infeção meningocócica: as manchas róseas surgem geralmente no primeiro dia de febre (podem ser fugazes = transitórias), ou preceder as petéquias (Figuras 7, 8 e 9).

Figura 7: Menino, 13 meses; sépsis meningocócica com prostração, manchas róseas e petéquias (≈ picada de pulga) com início nas primeiras 12 horas de febre; febre máxima 38,7ºC; teve boa evolução.

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Figura 8: Rapaz, 6 anos no 2º episódio de meningococemia: manchas róseas (máculas) e petéquias (fotos à 19ª hora de febre); 1º episódio aos 3 anos de idade.

Figura 9: Menino 2,5 anos, com sépsis com raras petéquias (não desaparecem à pressão com vidro); foto realizada à 12ª hora de febre.



Em regra as crianças e os adolescentes recorrem ao médico nas primeiras horas de febre (logo no primeiro dia). Como estão já “muito doentes” – com acentuadas prostração e sonolência, palidez intensa, vómitos, etc. – imediatamente são internadas e iniciam logo o tratamento (…ou pelo menos deveriam...).


Será imperativo que estes doentes sejam observados, internados e iniciem tratamento antibiótico adequado endovenoso, logo no 1º dia de doença, sob risco dum desenlace fatal e/ou ficarem com sequelas graves.


Que complicações pode trazer a infeção por Meningococo B?

Entre 5% a 10% virão a morrer (Figura 1). Nos que sobrevivem, são frequentes as sequelas: surdez, atraso mental, amputações de membros, etc.


Mas de onde provém a infeção? Quem contagia?

Periodicamente os meningococos colonizam (temporariamente) a garganta das pessoas, adultos ou não: estão presentes nas gargantas sem causarem doença. É o estadio “portador assintomático”. Em regra esses adultos estão imunes e por isso não contraem doença. Mas contagiam os outros.
E os problemas surgem se esses outros não estão imunes (sobretudo crianças e/ou adolescentes) – Ver figura 2.
Na maioria das vezes, são os cuidadores dos doentes, mais vezes os familiares mais próximos (pais, avós, etc.) que estão a origem da infeção.



Site aconselhado: www.bexsero.com



Nota: As fotas as fotos foram por mim tiradas com intuitos formativos e com a autorização dos pais. São testemunhos da minha experiência na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Pediátrico de Coimbra, desde 1988.

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