terça-feira, 5 de maio de 2015

Desparasitação por rotina? Não!


A elevada prevalência de «lombrigas» intestinais nas décadas de 80 e 90 do século XX em Portugal, justificava a recomendação para a desparasitação por rotina contra helmintas intestinais. A baixíssima prevalência atual e o potencial benefício da infestação crónica por poucos parasitas tornou obsoleta e supérflua essa prática.
Também a simultânea desparasitação com anti-helmintas, dos conviventes humanos (em casa e nos jardins de infância) e dos animais é uma medida errada, pois não tem justificação científica.

Quais são os parasitas intestinais prevalentes em Portugal?

Existem dois tipos diferentes de parasitas intestinais capazes de provocar doenças: o protozoário Giardia lamblia (giardia) e os helmintas (as «lombrigas»).

Qual a evolução das taxas de parasitismo em crianças nas últimas décadas?

A progressiva melhoria das condições sócio-económicas, culturais e higieno-sanitárias, associado à generalização da frequência de creches e jardins-de-infância pelas crianças, fez quase desaparecer os helmintas.

Que benefícios podem ter os helmintas intestinais?

O homem sempre conviveu com helmintas. A eliminação dos parasitas do intestino, afinal nem sempre é benéfica.
Ao interferir nos mecanismos da imunidade natural, a infeção crónica de baixa intensidade por helmintas, pode conferir alguma proteção contra algumas doenças crónicas: asma, doenças inflamatórias intestinais crónicas, diabetes mellitus, outras doenças autoimunes, etc.


Conviver com animais domésticos de estimação aumenta o risco de infestação intestinal por parasitas? 

Dos parasitas intestinais humanos, apenas a giardia pode resultar do convívio com gatos e cães. Os helmintas destes animais de companhia são diferentes dos helmintas humanos. Embora não infetem o intestino humano podem provocar doença em variados outros órgãos.
Justifica-se um reforço no tratamento das parasitoses dos animais e menos nos humanos.

Devem-se ou não desparasitar por rotina (DPR) as crianças e os adultos? E devem-se desparasitar os conviventes (familiares, colegas de jardim de infância) em simultâneo?

Não!!! São várias as razões para não o fazer:
  1. Só se justifica DPR perante taxas de parasitismo por helmintas superior a 20% da população (em Portugal é inferior a 1 a 2%).
  2. Os oxiúros têm um ciclo de vida completo igual ou inferior a 28 dias; após uma DPR as crianças podem voltar a ficar infestadas em poucas semanas;
  3. Os helmintas dos animais não provocam infestação e/ou doença intestinal em seres humanos.
  4. As infestações por helmintas de baixa intensidade são autolimitadas e potencialmente benéficas.
  5. A giardia é resistente à maioria dos anti-helminticos, e mesmo ao albendazol nas doses habituais usadas nas DPR.