O contacto com cães e gatos não tem qualquer risco de desencadearem infeções por lombrigas intestinais em humanos. E a medicação com os “desparasitantes” comuns, e nas doses padrão, só trata as lombrigas existentes no intestino.
Assim, justifica-se um reforço da desparasitação dos animais de companhia e não das pessoas.

Que tipos de parasitas intestinais podem existir nas pessoas e nos animais de companhia?
Existem dois grandes grupos de parasitas: os Protozoários (são microscópicos, constituídos por uma única célula) e os helmintas (as lombrigas). Apenas abordaremos estas últimas.| A medicação padrão com os fármacos conhecidos como “desparasitantes” só trata as lombrigas, e não os protozoários. |
Os diferentes tipos de lombrigas, variam, no tamanho, de poucos milímetros a 40 cm. Em regra são visíveis a olho nu. Na Tabela I estão discriminados as lombrigas que podem afetar as pessoas e/ou cães e gatos.
Tabela I: Lombrigas (helmintas) que podem existir em pessoas e/ou em cães e gatos
| Humanos | Cães | Gatos | Doenças em humanas | |
| Enterobius vermicularis (oxiúros) | Sim | Não | Não | Afeta 10 a 20% das crianças |
| Áscaris lumbricoides (áscaris) | Sim | Não | Não | Atualmente raro (< 2% das crianças) |
| Trichuris trichiura (trichuris) | Sim | Não | Não | Não há relatos de casos em crianças há mais de 10 anos |
| Strongiloides stercoralis (estrongiloides) | Sim | Raro | Não | Não há relatos de casos em crianças há mais de 10 anos |
| Ancylostoma duodenale (ancilóstomo) | Sim | Não | Não | Não há relatos de casos em crianças há mais de 10 anos |
| Taenia saginata e Tania solium (ténias) | Sim | Não | Não | Não há relatos de casos em crianças há mais de 20 anos |
| Toxascaris leonina | Não | Sim | Sim | Não |
| Toxocara canis | Sim* | Sim | Não | Larva migrans cutânea, visceral e ocular. Infeta humanos após penetração pela pele; não provoca doença intestinal em humanos |
| Toxocara catis | Sim | Não | Sim | Larva migrans cutânea, visceral e ocular. Infeta humanos após penetração pela pele; não provoca doença intestinal em humanos. |
| Trichuris vulpis | Não | Sim | Não | Não |
| Ancylostoma caninum | Raro | Sim | Não | Não |
| Ancylostoma tubaeforme | Não | Não | Sim | Não |
| Ancylostoma braziliense | Raro | Sim | Sim | Larva migrans cutânea (Figura 3), visceral e ocular. Infeta humanos após penetração pela pele; não provoca doença intestinal em humanos |
| Ancylostoma ceylanicum | Raro | Sim | Sim | Não existe em Portugal |
| Uncinaria stenocephala | Sim | Sim | Sim | Apenas larva migrans cutânea |
Aelurostrongylus abstrusus | Não | Não | Sim | Não |
Angiostrongylus vasorum | Não | Sim | Não | Não |
Capillaria aerophila | Muito raro | Sim | Não | Não |
| Dipylidium caninum (ténia) | Muito raro | Sim | Não | Não |
Conclusões
As lombrigas dos animais de companhia são diferentes dos humanos.As lombrigas intestinas dos animais não provocam lombrigas intestinais em humanos.
Justifica-se um reforço no tratamento das lombrigas intestinais nos animais e não nas pessoas.
Como tudo na vida e nas profissões … muitos não fazem o que deviam; mas outros tantos, não deviam, mas fazem.
“Dos principais deveres do médico é o de educar a população,
e não o de prescrever fármacos”.
Sir Williams Osler