O nome “infantarites” e a frequência destas infeções
Em 2013, a médica americana Pamela Bailey usou e definiu pela primeira vez a designação de “daycaritis”, que tento traduzir pelo neologismo infantarites.As alternativas a este nome seriam “infantariosites”, “crechites”, “jardinites”, “jardinzites” ou frases tais como “carrosséis de infeções nos infantários”.
Se bem que esta última traduza o essencial, optei por “infantarites”. Aos outros caberá aceitar ou sugerir um nome melhor.
A Figura 1 mostra a elevada frequência de infeções no início, mas também a variabilidade do número de infeções de criança para criança.
O que são infantarites?
São “carrosséis de infeções” (umas infeções atrás das outras) em crianças que frequentam creches ou jardins-de-infância.São infeções frequentes e recorrentes (repetem-se), envolvendo:
- As vias aéreas superiores e a mucosa conjuntival: rinofaringites (as banais “constipações” ou “catarros respiratórios superiores”, sinusites, otites médias agudas, estomatites (doenças da boca), faringites e/ou amigdalites (Figuras 2 e 3), conjuntivites; e/ou
- As vias aéreas inferiores: laringites, laringotraqueítes, traqueítes, laringotraqueobronquites, bronquites infeciosas, bronquiolites, broncopneumonias virusais; e/ou
- Aparelho gastrointestinal; gastroenterites por vírus, por parasitas (sobretudo Giardia) ou por bactérias (Escherichia coli, Salmonelas, toxina do Estafilococus aureus, …)
- Infeções sem óbvia focalização: síndrome febril sem foco com conservação do estado geral, febre sem foco com discreta rinorreia e/ou tosse associada.
- Exantemas (manchas na pele) banais, sejam virusais ou bacterianos (exemplo escarlatina – Figuras 6 e 7) no decurso ou não de febre.
Quais as razões para a ocorrência destas infeções em tão curto espaço de tempo?
As razões são essencialmente duas:- Disponibilidade e oportunidade para adoecer
- “Oferta” de agentes infeciosos
Disponibilidade e oportunidade
Ao nascer a criança traz como herança as imunoglobulinas maternas, recebidas através da placenta, em especial no último trimestre da gravidez. Só as imunoglobulinas IgG da mãe passam a placenta e só estas depois circularão no sangue dos bebés. Estes começam a produzir anticorpos antes de nascer se a mãe contrair alguma doença infeciosa (Figura 9).Estas imunoglobulinas (IgG) conferem imunidade para a maioria das infeções virusais banais até cerca dos 6 meses de vida da criança. Estas estarão protegidas das infeções que a mãe contraiu ao longo da vida.
A entrada nas creches (na maioria das vezes, logo nos primeiros 2 anos de vida) e/ou nos jardins-de-infância, coincide com o período da vida em que estas crianças já não têm os anticorpos maternos e pela tenra idade, ainda não adquiram qualquer imunidade para infeções, pois não tiveram tempo para isso.
As vacinas administradas no 1º ano de vida são dirigidas a bactérias e não a vírus, exceto as vacinas contra os rotavírus que provocam diarreias.
Oportunidade:
Nunca na vida uma criança estará mais tão propícia a adoecer. Existem cerca de 1.000 vírus que podem provocar doenças em humanos: são exemplos 101 os rinovírus (os vírus das constipações), os 51 adenovírus, os 13 rotavírus (os vírus mais frequentemente causadores de diarreias agudas), os vários vírus da gripe.Para complicar, os diferentes vírus frequentemente têm variantes (“cepas”), justificando sucessivas reinfeções, como é caso da gripe.
As viroses existem mesmo. Os pais é que estão mal informados.
Depois o que acontece?
Independentemente da idade com que uma criança entra (ou não) no infantário - antes dos 2 anos de idade; após os 2 anos de idade; nunca frequentou o infantário - aos 10 anos de idade, a taxa de infeções das crianças é semelhante nos 3 grupos. A frequência e a idade com adoeceram, é que foram diferentes:- Uns levaram logo um “banho de infeções”, sobretudo nos primeiros 12 meses de estadia na creche;
- Outros foram-se “molhando com infeções” sobretudo no início dessa estadia.
- Outros foram-se “salpicando” espaçadamente, durante 10 anos, de agentes infeciosos.
E lembremo-nos de duas coisas:
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