sábado, 7 de dezembro de 2013

A gripe sazonal - 2ª parte: Formas de contágio

A gripe é muito contagiosa através das gotículas respiratórias eliminadas pela tosse e espirros ou pelo contacto das mãos com as superfícies e os objectos contaminados com as secreções dos doentes (as fomites).
Nos meses frios, o clima frio e seco potencia a propagação dos vírus da gripe, ao prolongar a sua sobrevivência nas superfícies e objectos contaminados. A aglomeração de pessoas, em espaços confinados, favorece os contágios.



Porque é que a gripe é muita contagiosa?

Pela grande facilidade e rapidez com que os vírus se transmitem de pessoa para pessoa, através das gotículas respiratórias eliminadas pelos doentes ou pelas fomites criadas por estes. Basta uma dezena de vírus para provocar doença.
O contágio é muito facilitado pela aglomeração de pessoas: infantários, escolas, transportes públicos (figuras 1 e 2), cafés, espetáculos, salas de espera dos hospitais, etc.
Figuras 1 e 2 - Transporte publico

Qual é a percentagem de indivíduos que adoecem anualmente com gripe?

Entre 10 a 20% da população mundial: ≈10% adultos; ≈30% das crianças; mais de 50% das crianças nos primeiros 2 anos de vida.
Os indivíduos que tiveram contactos prévios com vírus influenza semelhantes (sobretudo adultos), adquiriram imunidade total ou parcial. Outros estão vacinados ou não se expõem a contágios (isolamento social).

Como é feito o contágio do vírus da gripe?

A transmissão de pessoa a pessoa, faz-se através de 4 formas:
  1. Contacto direto com um doente, em regra resultando na contaminação das mãos, alimentos ou objetos (figuras 3 e 4); 
  2. Emissão de grandes e médias gotículas (respetivamente >100 micras (µm) e > 5 µm < 100 µm) expelidas pela tosse e espirros, que atingem as mucosas dos novos doentes (a menos de 1,5 metros de distância) ou conspurcam alimentos ou objetos que o novo doente vai utilizar (figura 5 e 6); 
  3. Emissão de “aerossóis” (gotículas < 5 micras), que atingem as mucosas respiratórias e os pequenos brônquios dos novos doentes (figura 5 e 6); estas depositam os vírus diretamente nos brônquios;
  4. Através das superfícies e objetos contaminados (fomites) (figuras 1,2,7)
Figura 3 - Contacto directo com doente; Figura 4 - Contágio através das mãos (criando depois fomites)

Figura 5 - Produção das gotículas respiratórias (infetadas ou não); μm = micras

Figura 6 - Esquema da inalação de vírus por contágio inter-pessoal

O que são fomites?

São as inúmeras superfícies e os objetos contaminados com agentes infeciosos capazes de causar doenças. São exemplos: portas, manípulos das portas, pegas de sustentação dos transportes públicos (figuras 1 e 7), telefones, brinquedos dos jardins-de-infância e das salas de espera dos consultórios, mesas de cafés, mochilas e outros objetos dos alunos (figura 2), utensílios dos médicos (figura 7), mãos de cada um de nós (figura 4), etc.
Os vírus da gripe sobrevivem durante várias horas nas fomites.
Figura 7: Os objetos médicos não desinfetados são fomites

Quem gera as fomites?

Os doentes sintomáticos (desde a véspera do início dos sintomas), os doentes pouco sintomáticos que se misturam com a população saudável. Os prestadores de cuidados aos doentes (incluído os profissionais de saúde) que não têm os cuidados adequados na manipulação das fomites entretanto criadas.

Figura 8: Doentes pouco sintomáticos (misturam-se com a população) criando fomites

As crianças têm menos cuidados na prevenção dos contágios, pelo que a produção de fomites e a consequente transmissão de agentes infeciosos está mais facilitada, seja na sala de aulas (figura 9) seja nos transportes públicos (figura 2).
A eventual utilização do mesmo lenço para assoar várias crianças potencia, em muito, os contágios.
Figura 9: As crianças transmitem doenças às outras pelas gotículas respiratórias e pela constante criação de fomites

Nas epidemias de gripe, onde ocorre mais a transmissão dos vírus?

Nos estabelecimentos com crianças (creches, jardins de infância, escolas) ou com indivíduos institucionalizados, a tempo completo ou parcial (velhos em lares, doentes hospitalizados). E dentro de casa (figura 10).
Figura 10: Mais de 60% dos familiares pode adoecer quando uma criança adoece com gripe

Quanto tempo dura os surtos de gripe?

Entre 4 a 10 semanas. O pico da epidemia nas crianças precede de vários dias o da comunidade em geral.

Quanto tempo dura o contágio individual?

A eliminação dos vírus da gripe, nas secreções nasais, inicia-se um dia antes de os doentes manifestarem sintomas, tem o pico nos 3 primeiros dias de doença, e cessa dentro de 5 a 7 dias nos adultos, prolongando-se por 7 a 10 dias nas crianças em geral, durando até 13 dias nos lactentes (Figura 11).

A gripe só ocorre nos meses de inverno?

Pode ocorrer em qualquer época do ano, sendo mais comum entre dezembro e fevereiro.
Nos anos em que circulam 2 a 3 estirpes de vírus, poderá ocorrer um período de epidemia mais prolongado (> 3 meses) e/ou ocorrência de dois picos. Nos países quentes é frequente ocorrerem 2 picos, um na época das chuvas.

Razões da maior ocorrência da gripe nos meses de inverno

O clima frio e seco potencia a propagação da gripe por duas razões:
  1. Prolonga a sobrevivência dos vírus da gripe nas superfícies e objetos contaminados e, consequentemente, aumenta a duração dos contágios; 
  2. Gera a permanência de maior número de pessoas durante mais horas em espaços confinados.


Próximo texto: Gripe sazonal - 3ª parte: Manifestações clínicas e sua duração


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A gripe sazonal - 1ª parte: Caracterização do vírus

A gripe é a doença infeciosa provocada pelos diferentes subtipos do vírus da gripe. Pela sua capacidade de se modificarem constantemente, nem a infeção nem as vacinas conferem imunidade de ano para ano.
O termo “gripe” e “gripal” são muitas vezes mal usados, por incluírem outras infeções provocadas por diferentes vírus respiratórios. Isto acontece porque o vírus da gripe foi o primeiro vírus a ser descrito há 80 anos, e pelas semelhanças nas manifestações clínicas e na evolução dessas diferentes infeções virusais.


O que é a gripe?

É a infeção provocada pelos vírus influenza. Os mais vezes responsáveis por doenças em humanos são os do tipo A (Figura 1), menos vezes os do tipo B e raramente os do tipo C.

Figura 1: Esquema do vírus da gripe com os dois tipos de antigénios de superfície: hemaglutinina e neuraminidase.



Como se manifesta a gripe?

A gripe infeta sobretudo o aparelho respiratório – nariz, garganta, brônquios e pulmões – manifestando-se com febre alta, calafrios, obstrução nasal, tosse e dor de garganta (Figuras 2 e 3).

Figura 2: Invasão do aparelho respiratório pelo vírus da gripe


Na realidade a gripe afeta todo o organismo, comprovado pelas dores musculares generalizadas, falta de apetite, falta de forças e sonolência excessiva (letargia) (Figura 3).

Figura 3: Clínica da gripe



Pode apanhar-se a gripe todos os anos?

Sim, em especial durante as epidemias anuais próprias dos meses de inverno. Estas podem iniciar-se ainda no outono ou no final do inverno, podendo prolongar-se pela primavera (Figura 4).

Os vírus influenza A e B mantêm-se viáveis na população durante todo o ano. Por isso, alguns indivíduos poderão adoecer com gripe mais do que uma vez por ano.

Figura 4: Padrão epidemiológico anual das infeções das vias aéreas inferiores pelos vírus respiratórios mais frequentes: metapneumovírus, sincicial respiratório, influenza, parainfluenza e adenovírus, de Julho a Junho; dados de 25 anos de vigilância pela Vanderbit Vaccine Evaluation (EUA).



Como é que se distinguem os subtipos do vírus da gripe?

Os vírus da gripe do tipo A são classificados em subtipos consoante a presença de dois antigénios glicoproteicos na sua superfície: hemaglutinina (H) e neuraminidase (N) – (Figuras 1 e 5). Pelo facto de existirem 16 glicoproteínas H e 9 N diferentes, são possíveis múltiplas combinações.

Figura 5: Esquemas de: a) Antigénios virusais: frações proteicas específicas dos agentes agressores (vírus, bactérias, etc.), que reconhecidas pelo organismo como estranhas; b) Anticorpos: complexos de proteínas produzidos pelo organismo como resposta específica contra esses antigénios; c) Complexos Ag-Ac: combinação/ligação do antigénio com o anticorpo



A infeção pelo vírus da gripe não dá imunidade?

Na prática, dado que a estirpe da próxima epidemia será, em regra, diferente da dos anos anteriores, justifica a ausência de imunidade.

Os vírus influenza mudam constantemente na sua forma antigénica, por mutações genéticas ou por recombinações entre as estirpes atuais do subtipo do vírus – com modificações drift (minor) e shift (major) dos antigénios de superfície – e o consequente aparecimento de novas estirpes.

Após cada infeção são produzidos anticorpos com grande especificidade para essa variante (estirpe) do subtipo do vírus responsável por essa infeção (Figura 5). Mas as menores taxas de infeção anual nos adultos, comparativamente às crianças, refletem a imunidade adquirida (total ou parcial), ao longo dos anos, para os diversos subtipos e estirpes dos vírus da gripe.


A gravidade dos subtipos de gripe é diferente?

Sim. Por exemplo, as infeções pelo subtipo H3N2 tendem a ser mais graves comparativamente ao subtipo H1N1. Os subtipos mais perigosos são os H5 e os H7. A pandemia que, desde 1997, se prevê poder vir a acontecer um dia, pelo subtipo H5N1 (conhecida por “gripe das aves”), com origem em Hong Kong, previsivelmente será muito mais grave do que a pandemia de 2009 pelo vírus H1N1.


Qual a verdadeira origem dos vírus da gripe?

As aves migratórias são os principais focos originais de infeção (hospedeiros ou reservatórios). Por contágio, também as aves domésticas (galinhas, patos, perus) e, menos vezes, os porcos e os cavalos podem tornar-se hospedeiros (Figura 6).

Figura 6: Hospedeiros ou reservatórios naturais do vírus da gripe


Em regra esses subtipos do vírus da gripe são específicos desses animais, sendo os humanos, de um modo geral, resistentes aos mesmos.

Excecionamente, nalguma parte do Mundo, um desses subtipos passa a provocar doença em humanos. Se esse novo foco não for rapidamente controlado, estará iniciada uma nova pandemia que afectará, em poucos meses, todo o Mundo.

Assim sucedeu ao longo dos séculos, como se depreendem dos relatos compatíveis com “gripe” desde há mais de 2.000 anos.

Nos últimos 100 anos ocorreram 5 pandemias: 1918 pelo vírus H1N1 – a “gripe espanhola”, que provocou mais 50 milhões de mortos em todo o Mundo – cerca de 3% a 5% da população mundial (Figura 7), 1957 (H2N2), 1968 (H3N2), 1977 (H1N1), 2009 (H1N1).

Figura 7: Hospitalização improvisada de soldados doentes (EUA) na pandemia de 1918


Após uma pandemia, esses subtipos patogénicos ficam endémicos na população, sofrendo depois sucessivas pequenas alterações (estirpes) em relação ao vírus inicial pandémico.


Pode dizer-se que “infeção por um vírus respiratório”, “gripe”, “síndrome gripal” são mesma coisa?

Não. O vírus da gripe foi o primeiro vírus respiratório a ser conhecido em 1933.

Atualmente conhecem-se cerca de 1.000 vírus capazes de induzir doenças em humanos (“as viroses”). Na sua maioria invadem o aparelho respiratório e manifestam-se com febre e sintomas respiratórios agudos semelhantes aos da gripe.

Razões históricas e nas semelhanças clínicas e na evolução, estão na origem da utilização abusiva das expressões “é uma gripe” e “é um síndrome gripal”, tanto pela população, como pelos próprios profissionais de saúde (Figura 8).

Da análise da figura 4, poderá concluir-se que, alguns dos picos de infeções que ocorrem nos meses de inverno, não são devidos a surtos de gripe.

Na dúvida seria preferível dizer-se “vírus respiratório”.

Figura 8: A confusão entre “resfriado” e gripe são o dia a dia em qualquer país.



Que outros vírus provocam infeções que se podem confundir com a gripe?

Os mais importantes são os vírus sincicial respiratório (subgrupos A e B, cada um com numerosas estirpes), os adenovírus (> 50), os coronavírus (> 4), os parainfluenza (4 tipos), os rinovírus (> 100), os metapneumovírus, os enterovírus (poliovírus, coxsakievírus do grupo A e B, echovírus, novos enterovírus – num total > 90), etc., todos mais comuns nos meses de inverno (Figura 4).


Proximo texto: Gripe sazonal - 2ª parte: Formas de contágio


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A escolha do nome próprio - O que os pais deverão ter em consideração

O nome é a identificação de um indivíduo para toda a vida. A sua escolha é um ato de amor pelos pais. Mas deverá ser uma decisão ponderada, para que a criança, depois adolescente e mais tarde adulto, o use com alegria e orgulho e tenha prazer em o ouvir pronunciar.



A identificação:

O nome próprio (de baptismo, prenome ou antropónimo) é a identificação de um indivíduo perante a sociedade toda a vida. Ele causará a primeira impressão.
O(s) prenome(s) deve(m) “casar bem” com os apelidos (nomes de família, sobrenomes), provocando ritmo e sonoridade agradáveis.

Algumas noções históricas:

O objetivo do antropónimo varia de cultura para cultura e de níveis sociais e foi mudando ao longo da História das civilizações.
Para os gregos, deveria representar uma metáfora (Helena, brilho do sol), uma característica física (Platão, largo de ombros) ou uma qualidade (André, viril, Filipe amigo de cavalos). Para os romanos (latim), evocava um destino desejado (Vicente, vencedor), a ordem de nascimento (Octávio, oitavo) ou uma característica física (Cláudio, coxo).
Em Portugal predominam os nomes com origem no latim, grego, germânico (Ema, Guilherme) e hebraico (David, Ester).



Problemas que os nomes podem vir a acarretar:

É importante que os pais optem por um nome de que gostem. Mas devem pensar não apenas no bebé, também na criança, no adolescente e no futuro adulto. 
Nomes para os pais, “únicos e originais” serão “estranhos”, “ridículos” e motivo de troça pelos colegas, pares, sociedade.
A futura aceitação (ou não) do nome pelo próprio indivíduo, poderá vir a constituir um fator social positivo ou negativo. “Os nomes não condicionam, mas influenciam as crianças,…”.

Fontes de inspiração / desinspiração:

Por vezes a escolha baseia-se no nome próprio ou ser um patronímico (nome derivado do nome dos pais; exemplo Heráclidas, filho de Hércules) de um parente respeitado, que poderá estar em desuso ou ser pouco simpático. 
Noutras é influenciada por personagem célebre da História, vida política, romance (Cinderela), filme ou telenovela. 
Muitas celebridades passam depois a ter conotações pouco simpáticas, pela que essa escolha condicionará que as crianças, futuros adolescentes e futuros adultos tenham de conviver com a “sombra” e o “peso desse nome”.

Sonoridade: 

Será fundamental atender à sonoridade do nome completo. Os pais devem ensaiar, proferindo em voz alta, a ligação do(s) antropónimo(s) e dos apelidos de família. Deverá verificar-se se há ou não redundância e/ou dificuldade em soletrar alguns nomes devendo evitar-se essas associações perturbadoras: exemplo Fernando Fernandes.

Trocadilhos

Deve evitar-se a criação de potenciais jogos de palavras. Exemplo João Pedro Passos Dias Aguiar, onde bastaria omitir ou substituir o Dias.

Compreensão:

Deve evitar-se nomes difíceis de pronunciar ou de escrever, para prevenir embaraços. Por exemplo Hermenegildo, confundido com Ermegildo, Ermenegildo.

Diminutivos:

Um diminutivo expressa a ideia de pequenez, em regra usado com intenção carinhosa pelos pais e amigos. Um nome próprio pequenez, trará inevitavelmente embaraços ao adolescente e ao adulto, devendo ser evitados.

Nomes de Irmãos:

Aos irmãos não devem ser dados os mesmos antropónimos, nem nomes com semelhante sonoridade. Nomes como João Miguel, João Daniel, inevitavelmente irão ocorrer algumas confusões.

A família migrante

As famílias que imigram ou emigram deveriam escolher antropónimos para os filhos quase universais. Evitarão constrangimentos e dificuldades da pronúncia, sonoridade escrita. São exemplos: Alice, Olívia, Maria, Emanuel, Xavier.

Normas para atribuição do nome a um recém-nascido:

O nome do recém-nascido é escolhido pelos pais de mútuo acordo e deve compor-se, no máximo, de seis vocábulos gramaticais, simples ou compostos, devendo um a dois corresponder a nomes próprios e dois a quatro a apelidos.
Em Portugal os nomes próprios devem ser portugueses e aceites pela onomástica (lista dos nomes próprios) portuguesa ou adaptados gráfica e foneticamente à Língua Portuguesa. E não devem suscitar dúvidas acerca do sexo.
Os apelidos devem ser adoptados dos pais, ou a só dum deles, ou um outro apelido a que tenha legalmente direito.


Bibliografia:

  1. Belo, Ana. Mil e Tal Nomes Próprios. A Magia dos Nomes. Cascais, ArtePlural edições, 2002.
  2. Ramos R. A Onomástica portuguesa. Pense duas vezes antes de dar um nome bizarro ao seu filho, http://ionline.pt/interior/index.php?p=news-print&idNota=24277.
  3. http://www.meusparentes.com.pt/centro-de.informacoes/nomes-proprios-e-o-seu-significado.
  4. Agustini, G. Onze dicas para escolher os nomes de bebés, http://bebe.abril.com.br/nomes 
  5. Oliveira, V. O fardo que pode ser um nome, familia.sapo.pt/articles/saber_viver.
  6. http://bebes.com.pt/nomes_bebes.
  7. http://brasi.babycenter.com/pregancy/nome/como-escolher.
  8. http://www.portaldocidadao.pt.