segunda-feira, 29 de maio de 2023

Fimose no Menino Pré-Escolar e Escolar

Fimose é não separação do prepúcio da glande do pénis (Figura 1).

Por imaturidade destes tecidos do pénis, é normal a ocorrência de fimose fisiológica nos primeiros 7-8 anos de vida. Apenas a partir desta idade se considera fimose "doença".

A retração forçada do prepúcio durante o banho é um procedimento incorretamente recomendado nos primeiros anos de vida. Ao não ter em conta a evolução natural e fisiológica dos tecidos da glande e do prepúcio, pode ser prejudicial; também porque é dolorosa, é desaconselhada a retração forçada.

Também muitas das "fimoses fisiológicas" são observações superficiais pelos clínicos.


                                                         Figura 1: Fimose e o normal


Prevalência:

Ao nascimento 96% dos rapazes recém-nascidos apresentam aderência do prepúcio à glande. Espontaneamente ocorrerá a maturação dos tecidos, proporcionando que aos 1, 2, 3 e 5 anos de idade a percentagem de fimose seja, respetivamente, de 50%, 30%, 20% e 10% (Figura 2).


Figura 2: Evolução espontânea da fimose fisiológica com a idade

Aos 8 anos apenas 5% dos rapazes mantêm fimose; portanto só a partir desta idade é "anormal". 

Até aos 8 a 10 anos, justifica-se apenas a simples lavagem  do pénis, devendo-se esperar pela maturação tissular espontânea.

Espontaneamente, ocorrerá fimose aos 12 anos em 2% dos rapazes (Figura 2).


Analogia: 

Numa laranja, se forçarmos a separação entre os gomos e casca, conseguimos fazê-lo na laranja madura, mas não na laranja muito verde. Nesta apenas a estragamos. É preciso deixar que maturação dos tecidos se processe espontaneamente de forma lenta e gradual.


Critérios de Referenciação de fimose DIRECTAMENTE PARA A CONSULTA DE CIRURGIA PEDIÁTRICA:

- Fimose em idade superior a 8 anos

- Anel prepucial espesso, tenso e irregular, cicatricial e não elástico (da Balanite Xerótica Obliterante/ Líquen Escleroso);

- Edema branco prepucial - fase inicial da Balanite Xerótica Obliterante/ Líquen Escleroso

- Não resposta ao tratamento com  (DIPROGENTA.R (Betametasona) iniciada após os 7-8 anos de idade.


Não São Critérios de Referenciação:

- Balão do prepúcio durante a micção - ocorre porque o prepúcio é flácido e o  jato da urina não acerta com a abertura dum prepúcio; 

- História familiar de circuncisão;

- Fimose apertada com anel prepucial fino, enrugado mas elástico.


Tratamento Médico (após os 7-8 anos de idade):

Aplicação tópica de betametasona a 0,05% (DIPROGENTA.R) durante 4 a 6 semanas.

Não se conhece o mecanismo da betametasona na maturação dos tecidos, mas tem uma taxa de cura de 65% a 75% dos casos.


quarta-feira, 17 de maio de 2023

Doença Boca, Mãos e Pés

A doença boca, mãos e pés é uma doença banal, em regra muito benigna, que cura espontaneamente em menos de uma semana. 

Uma vez que o contágio persiste durante algumas semanas após a cura da doença, a retirada da criança do estabelecimento não irá impedir a propagação do vírus às restantes crianças.

Apenas as crianças incapazes de participar nas atividades do grupo ou as que manifestarem significativo desconforto devem ser sujeitas a evicção da creche ou do estabelecimento de ensino.


I - Etiologia e Manifestações Clínicas e Idade de Ocorrência:

É provocada por vírus Coxsackie, causando lesões nas mãos incluindo as palmas, nos pés incluindo as plantas e na boca. Daí o nome (Fig 1, 2 e 3). As lesões são constituídas por pápulas (“borbulhas salientes) e/ou vesículas (“borbulhas” contendo líquido) que podem romper.

 

Fig 1: Lesões periorais muito características e na boca


Fig. 2: Lesões palmares

 

Fig. 3: Lesões plantares

 As lesões cutâneas estão presentes em 75% dos doentes e podem ocorrer também noutros locais, tais como nas nádegas e nos genitais. Na boca as vesículas tendem a romper causando aftas que são dolorosas.

Outras manifestações clínicas possíveis são a febre (que ocorre apenas em algumas crianças), dor garganta e recusa em comer.

Esta doença pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum até aos 10 anos.

 

II – Manifestações Clínicas Tardias:

Várias crianças que apanham esta doença surgem, algumas semanas depois, com descolamento e depois queda de várias unhas (onicomadese) (Figura 4).

 

Fig. 4: Onicomadese das unhas

Depois as unhas voltam a crescer completamente normais. Noutras crianças surgem apenas sulcos esbranquiçados transversais nas unhas


III – Período de Incubação e Período de Contágio:

O período de incubação é de 3 a 6 dias.

O contágio é feito pelas fezes e pelas secreções respiratórias. Para além do período de doença, e mesmo  após a cura, o vírus continua a ser eliminado pelas fezes durante várias semanas e pelas secreções respiratórias durante 1 a 3 semanas.

 

IV – Excluir a Criança Doente do Estabelecimento (Creche, Infantário, Escola)?

Em regra NÃO.

Sim se a criança for incapaz de participar nas atividades de grupo ou manifestar claro desconforto.

A doença é muito benigna e não necessita de tratamento, exceto antipiréticos para a febre. E é benéfico a criança adquirir imunidade para estes vírus. Daí não ser incluída na lista oficial das doenças de evicção escolar.

Uma vez que o contágio persiste durante algumas semanas após a cura da doença, a retirada da criança do estabelecimento não irá impedir a propagação do vírus às restantes crianças.


Bibliografia:

Aronson SS, Shope TR. Managing Infectious Diseases in Child Care and Schools. A Quick Reference Guide, 4th Edition; 2017:97-98 (publicado pela Academia Americana de Pediatria)